Ao longo de doze anos nosso pensamento e nosso olhar esteve voltado para “alguém que veio do fim do mundo”, como ele mesmo disse ao se apresentar como novo papa no dia em 13 de março de 2013, tendo recebido 116 votos entre 120 eleitores presentes no Conclave. Aquele Colégio de Cardeais colocava sob a sua responsabilidade a condução das reformas da Igreja propostas pelo Concílio Vaticano II. O próprio nome papal, Francisco, escolhido pelo Cardeal Mário Bergoglio, indicava essa missão decorrente da visão de São Francisco de Assis em 1205 após a visão diante do Crucifixo em São Damião que lhe dizia: “Vai, Francisco, e reconstrói a minha Igreja em ruínas”. 5lt6s
As reformas empreendidas não se restringiram à Cúria Romana, mas alcançou as estruturas da Igreja em todo o mundo, a mudança do estilo e da visão da Igreja. Dificilmente ou, até mesmo poderíamos dizer, impossível será reverter o caminho percorrido por Francisco. Ele soube iniciar processos da Igreja no mundo todo, não como atitude personalista, mas como “caminho sinodal”. Ele soube colocar a Igreja em caminhada, em saída. O caminho sinodal não tem como ser barrado por alguma medida pessoal que possa romper a força desse processo de peregrinação. É o mesmo processo da caminhada dos cristãos dos tempos apostólicos.
Cada gesto seu hoje se reveste de grande herança. São gestos que mostram processos iniciados que deverão ser continuados por quem virá a ser escolhido pelo colégio dos cardeais. Estes podem ser considerados como irreversíveis. Há também processos que estão mais distantes, que dependem de um conjunto de fatores históricos que estão presentes no meio do povo de Deus. Francisco promoveu ações que geraram “novos dinamismos na sociedade e na Igreja, pois estão no horizonte do encontro, da troca, da colegialidade, da sinodalidade do caminhar juntos.
A imagem da Igreja que emerge do pontificado de Francisco não é a imagem da grande instituição, mas de uma Igreja misericordiosa, que cuida da criação, que promove a fraternidade humana, que chora com a realidade dos migrantes, que chega às periferias geográficas e existenciais, que mostra o rosto misericordioso de Deus. Esta Igreja em saída cresce na medida de seu peregrinar esperançoso. Hoje o maior bem que a Igreja poderia dispensar ao Povo de Deus espalhado pela terra chama-se Esperança. Por isso, convoca cada cristão para ser “peregrino de esperança”.
Francisco abriu centenas de trilhas onde os peregrinos de esperança podem saciar sua sede e sua fome. Seu caminho apresentando nesse tempo de pontificado é marcado pela leveza e pela alegria. Um Papa permanentemente sorridente, com fisionomia leve. É o grande maestro que sente a ópera e seus movimentos e a dirigiu até o último instante de vida. Francisco foi um maestro que renovou os movimentos de cada instrumento e foi afinando aqueles que desafinaram com o tempo.
Francisco sempre nos brindou com um presente em cada palavra, em cada gesto, em cada aparição. Mesmo quando teve que puxar as orelhas de alguém o fez com tanta leveza que parecia carinho de mãe. Nele a mansidão evangélica se fez real, presente, concreta. Foi o bom pastor. Em suas trilhas encontramos pequenas plantinhas, pequenas flores, pequenas árvores e riachos onde podemos matar a sede. Essa é a beleza do Evangelho. Seu caminhar foi “a alegria do Evangelho”.
Em sua eleição no dia 13 de março de 2013 ouvimos “Habemus Papam”. Em seu sepultamento os anjos do céu cantam “Habemus Sanctum”.
Edebrande Cavalieri