Para entendermos melhor essa prática da Igreja para a escolha de um novo Pontífice, precisamos percorrer um pouco a história. Mais importante que a sucessão papal é a sucessão apostólica, ou seja, como se deu o processo iniciado com Jesus Cristo enviando os seus apóstolos pelo mundo afora. O que deveriam levar e ensinar? 3q5x5i
Nascia ali a necessidade de se conduzir pelos ensinamentos de Jesus de maneira autêntica. A sucessão apostólica tem como princípio a autenticidade da autoridade eclesiástica e doutrinária de um bispo a outro, de forma contínua desde os apóstolos.
O Papa Bento XVI disse em 2006 que a sucessão apostólica deve ser compreendida na linha da continuidade histórica e nela exprime-se a garantia de perseverar. Ao mesmo tempo, essa garantia histórica reveste-se da dimensão espiritual. A sucessão apostólica é considerada como lugar privilegiado da ação e da transmissão do Espírito Santo. Por isso, o Conclave precisa estar bem atento ao que o mesmo Espírito diz à Igreja hoje.
Santo Irineu, no século II, dizia que “A tradição dos Apóstolos, manifestada em todo o mundo, mostra-se em cada Igreja a todos os que desejam ver a verdade e nós podemos enumerar os bispos estabelecidos pelos Apóstolos nas Igrejas e os seus sucessores até nós”. Cada bispo situa-se na linha direta de sucessão apostólica e quando algum deles, por ventura, não mais se mantiver fiel à doutrina ensinada pelos Apóstolos deverá ser excluído.
O mesmo Santo Irineu nos diz que a sede fundada e constituída em Roma pelos Apóstolos Pedro e Paulo representa a “garantia do perseverar na palavra do Senhor”. Assim, a sucessão episcopal da Igreja de Roma torna-se o sinal, o critério e a garantia da transmissão ininterrupta da fé apostólica. “A esta Igreja, pela sua peculiar principalidade, é necessário que convirjam todas as Igrejas, isto é, os fiéis de todas as partes, porque nela a tradição dos Apóstolos sempre foi preservada”. Temos a sucessão não como ocupar um lugar de poder como é na vida civil, mas uma sucessão com base na comunhão com a Igreja de Roma.
Até o século IV, a sucessão episcopal na Igreja de Roma era feita com o clero, o povo e os bispos das cidades vizinhas. Contudo, com o Imperador romano, Constantino, que deu liberdade de culto aos cristãos e apoio no Concílio de Nicéia, as autoridades políticas imperiais romanas aram a exercer influência na escolha do sucessor do Papa. A Idade média presenciou exagero e até influências nefastas para o cristianismo. A escolha do Papa era motivo de disputas políticas e até guerras. Entre 1309 e 1377, a cristandade medieval acabou escolhendo três nomes para uma mesma função, de Papa,
Diante disso, o Papa Gregório X em 1274, visando garantir a eleição sem interferências externas, instituiu o chamado “conclave” (com chave). Os eleitores que formavam o colégio de cardeais eram isolados até que ocorresse a escolha do novo Papa. Por este motivo, até hoje, durante o conclave, os cardeais não podem ter nenhum contato com o mundo externo, nem ler jornais, nem ver canais de comunicação. O conclave torna-se um grande “retiro”. Foi o Papa João Paulo II, que em 1968 estabeleceu que todos os cardeais com menos de 80 anos poderiam participar do conclave com direito a voto.
Uma compreensão mais adequada do conclave é muito importante. Não se trata apenas de uma reunião política como é na vida civil. É um tempo de forte “mística eletiva”, com celebrações, orações, juramentos na hora de declarar o voto secretamente, conversas entre os cardeais. Com a cédula eleitoral cada cardeal assim declara: “Invoco como testemunha Cristo Senhor, que me há de julgar, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo dever ser eleito”.
São quatro votações por dia e o eleito deverá obter 2/3 dos votos. O Papa Francisco obteve 116 votos de 120 eleitores. Ao ser escolhido, o novo Papa é interrogado se aceita o cargo e qual será o nome papal. A fumaça branca torna-se sinal de que o papa foi escolhido pelo Conclave. Somente depois será anunciado pelo cardeal Protodiácono no balcão central da Basílica de São Pedro proferindo “Habemus Papam”. O novo Papa se apresenta nesse balcão e concede a Bênção Apostólica “Urbi et Orbi”.
Com o enterro do Papa Francisco, inicia-se um período de luto de nove dias (Novemdiales ou novendiais) com missas na intenção do descanso eterno e os preparativos do conclave com as reuniões dos cardeais nas chamadas “Congregações”. O que eles discutem? Vão propondo uma agenda de trabalho para o próximo papa. Somente quando se iniciar o conclave que deverá ocorrer entre os dias 06 a 11 de maio teremos a reclusão dos cardeais e o início das votações.
Em todo esse processo, especialmente os católicos do mundo inteiro, são chamados a rezar para que o Espírito Santo ilumine os cardeais reunidos e escolham o melhor nome para dirigir a Igreja como sucessor de Pedro. Será um Francisco II? O novo papa terá pela frente o desafio de continuar as reformas empreendidas pelo Papa Francisco, pois elas representam a implementação do Concílio Vaticano II. Esse foi o desejo do colégio de Cardeais em 2013 e deverá também estar na pauta desse novo conclave. Rezemos!
Edebrande Cavalieri
Foto de Capa: Vaticano News